segunda-feira, 22 de setembro de 2008
CARNAVAL 2009
apresenta
“Lorosae Timur.
Histórias de coragem escritas com amor.
Meu pequeno Timor.”
Autor: Eduardo Nunes
Nessa noite a Insulíndia levou meu samba ao encontro da Ilha de Timor. Lugar aonde o sol desponta primeiro, clareando cada novo dia. Conta a lenda que tudo começou com o velho crocodilo, que com muita fome agonizava as margens do pacífico. De seus olhos desceram lágrimas que fizeram com que um jovem rapaz o ajudasse a se alimentar. Como sinal de gratidão o crocodilo prometeu proteger o jovem. Passaram várias luas até que o período da fome voltou e fez com que o crocodilo pensasse em se alimentar do rapaz. Animais de todo o mundo se reuniram para recriminar o crocodilo. Envergonhado e arrependido, o crocodilo decidiu ir a busca do nascer do sol para sua redenção. De repente ele viu suas patas paralisarem e seu corpo lentamente petrificar, as terras emergiram ao seu redor. Nascia a ilha de Timor em forma de crocodilo. E o rapaz caminhou pela ilha com sol nascente em seu pescoço, nascia o primeiro timorense. Timor em língua tétum quer dizer oriente, aonde o sol nasce e começa a liberdade.
Recanto do mapa que dá fertilidade para a terra, que faz brotar o caule da arequeira e faz verde a folha do bétele. Chão que é pisado pela força do búfalo tal qual a força do povo maubere. Tem aroma de sândalo pelo ar! A nobre madeira que exala odor que conferia aos rituais da ilha harmonia espiritual atraiu as rotas comerciais que exalavam cobiça. Primeiro chegaram os vizinhos orientais, chineses e indo-javaneses que faziam da madeira peças para seus luxuosos palácios. Depois, portugueses rumando no desconhecido se encontram com a ilha iniciando a saga colonizadora européia. Suseranos do Rei de Portugal a ilha lentamente se convertia em uma pérola oriental no Império do ultramar português. Missionários convertiam nativos ao catolicismo, fazendo com que as crenças tomistas insulares fossem enfraquecidas. Os olhos da cobiça européia se lançaram sob a próspera ilha portuguesa trazendo invasores holandeses na Guerra de Cailaco. O Timor holandês fundou Díli, cidade portuária que exportava madeira e importava a cultura ocidental.
O alvorecer da Idade Contemporânea trouxe para a ilha a decadência do comércio de sândalo e o despertar do cultivo do café. A metrópole Portugal com sua política de descolonização após os anos salazaristas fomentava na ilha a idéia de independência. Sonho interrompido pelo desejo de expansão da imperial Indonésia. O laço que Timor se fazia representar entre oriente e ocidente se desfez ao som de metralhadoras e tanques de guerra A Invasão silenciou o povo maubere, fazendo com que se escondessem nas montanhas. A língua portuguesa foi banida da ilha sendo imposta a língua indonésia. O mundo fechava os olhos ao massacre que estava prestes a ocorrer.
"Na ponta da minha baioneta escrevei a história da minha libertação” (frase encontrada escrita em um muro da capital Díli). As marcas indonésias em Timor foram banhadas de sangue deixaram na terra lágrimas de tormento. Mesmo tendo o medo como sua sombra, Timor se fazia guerreiro nos heróicos movimentos de resistência. Os grilhões do império indonésio não fizeram com que o maubere se entregasse. O sonho da liberdade era pago com o alto preço da fome e do isolamento total do mundo. O maior massacre do século XX, tendo mais de um terço da população timorense dizimada, trouxe enfim gritos Lorosae!
O maubere é bravo, e só termina seu canto na dança guerreira da vitória: Lorosae! Enfim a liberdade! O despertar do novo milênio faz surgir finalmente a República Democrática de Timor Leste, primeiro país do século XXI. A língua portuguesa une, enfim o nosso Brasil ao Timor. A redescoberta da identidade lusófona timorense passa pelo nosso canto, o nosso samba. Daí os tambores revestidos de pele de búfalo timorenses tocam com o nosso cavaco contando essa saga de coragem. Faz-se revelar sob as luzes do carnaval o sorriso sempre constante no rosto de cada timorense, que luta por sua terra com coragem e amor. Está aí meu pequeno Timor!
Aos compositores
A G.R.E.S.V. Raízes convida aos compositores a fazerem parte da nossa escola, compondo sambas para o carnaval de 2009. Damos total liberdade para a criação do samba, desde que siga o a linha seqüencial do enredo apresentado. O samba será escolhido pela diretoria da escola em final ainda sem data definida.
Os compositores poderão compor quantos sambas quiser, seja em parceria ou não.
Os sambas deverão ser enviados, até data ainda a ser definida pela diretoria, para eduardopiresnunes@hotmail.com e para murilo_sousa@yahoo.com.br. Deverão contar no e-mail a letra do samba (Word ou pdf) e o áudio (wma ou mp3).
Não haverá premiação para o samba vencedor. A escola se reserva ao direito de modificar a obra para maior adequação ao enredo e/ou melodia, assim como o direito de fundir dois ou mais sambas.
Boas composições!
Eduardo Pires Nunes
Presidente da G.R.E.S.V. Raízes
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Tripé - A Caçada ao Perigo Vermelho
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira - Entre a Foice e a Águia
Alegoria nº 01 (Carro Abre-Alas)- E Quiseram Calar Esse País - Anos Que Não Terminaram Jamais
Ala nº 01 - Os Grafites de Paris - A Inspiração
Ala nº 02 - É Proibido Proibir RAINHA de BATERIA - Alegria Alegria
Ala nº 03 BATERIA - A Tropicália
Ala nº 04 - O "Cálice" Que Não Se Calou
Ala nº 05 - Roda Viva
O Povo Canta o Brasil que Resistiu - Os 21 Anos de um País Sem Lenço Nem Documento
Autor do Enredo: Eduardo Nunes
Apresentação do Enredo
"De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade"
(Cálice. De: Chico Buarque e Gilberto Gil)
Em silêncio... Era assim que os oficiais da Ditadura queriam ouvir o Brasil. Em forma de poesia o país que resistiu respondeu a clausura de um dos tempos mais obscuros de nossa história. A Raízes, em azul e branco, vem contar essa história do país que viveu 21 longos anos sem lenço nem documento.
Sinopse
ANa década de 60 ao abrir a janela encontrávamos um mundo bipartido. Frias guerras se espalhavam pelo mundo e gotas de sangue e suor respingavam principalmente nos países de terceiro mundo. O Brasil tinha que escolher seu destino, entre a foice e a águia.
“São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração.”
(Águas de Março. De: Tom Jobim)
As águas de março que fechavam o verão de 1964, abriam caminho para uma nova fase da história nacional. Em comício na Central do Brasil em 13 de Março do mesmo ano, o presidente João Goulart, o famoso Jango, no Comício das Reformas de base dá sua fatal guinada à esquerda. A caça ao espectro vermelho comunista chega ao Brasil. Forças militares (mas com um gigantesco apoio civil) se articulam para o golpe com o apoio claro dos Estados Unidos da América.
Anos se passam e o que era para ser uma “intervenção cirúrgica” no país, ganha contornos de crueldade em fins de 1968, “o ano que não terminou”. O AI-5, que propunha a supressão dos direitos individuais tenta calar o Brasil. A mesma classe média, por vezes até conservadora, que quatro anos antes apoiara o golpe, agora chora a morte sangrenta de seus filhos. Chora um país inteiro a morte da liberdade nos “anos de chumbo”.
“Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...”
(Prá não dizer que não falei das flores. De: Geraldo Vandré)
Inspirados pelos grafites que cobriam os muros de Paris na Rebelião estudantil de 64, jovens brasileiros vão em busca da liberdade de expressão tão sonhada. Em forma de canção se dá a resistência. “É proibido proibir” de Caetano Veloso ganha voz pelo Brasil antes de ser censurada. O “Cálice” que não era cálice de Chico Buarque e Gilberto Gil passa pelas frestas da censura fazendo o povo não se calar. “Alegria alegria” de Caetano, cantava um país sem lenço nem documento. A Tropicália reinterpreta o Brasil. O teatro ganhava contornos de resistência com o espetáculo “Roda Viva” na qual teve até mesmo atores espancados pela censura do DOPS e do SNI. Os festivais, que eram mania nacional davam voz ao Brasil. E no terceiro Festival Internacional da Canção a música “Prá não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré ficou em um inexplicável segundo lugar, mas se tornou hino da resistência. Pois caminhando e cantanto seguindo a canção somos todos iguais, braços dados ou não.
“A taça do mundo é nossa
Com brasileiro não há quem possa
Êh eta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom no couro”
(A taça do mundo é nossa. De: Maugeri, Müller, Sobrinho e Dagô)
O esquadrão de ouro encantava o país na conquista da copa de 1970 no México. Segundo os oficiais da ditadura era esse o país que iria pra frente em verde e amarelo. A euforia tomava conta do país no visual dos anos 70 em cores fortes e ácidas. Pura utopia de quem não via o que acontecia nos porões do Brasil. Nessa época a Rede Globo conquistou um meteórico sucesso com o seu parcial Jornal Nacional. As telenovelas encantavam e coloriam as Tv’s. A Jovem Guarda faziam multidões delirarem. O “milagre brasileiro” era construído a duras penas. Foi a época da construção da Transamazônica, da Ponte Rio-Niterói, dos metrôs no Rio de Janeiro e São Paulo, da Zona Franca de Manaus e da Usina Nuclear de Angra dos Reis. Obras que até hoje geram controvérsias. Era um país perfeito, pintado a ouro mas construído por isopor. Um país construído às custas de sangue de seus filhos.
“Vamos renascer das cinzas
Plantar de novo o arvoredo
Bom calor nas mãos unidas
Na cabeça um grande enredo
Ala dos Compositores
Mandando o samba no terreiro
Cabrochas sambando
Cuica roncando
Viola e pandeiro
No meio da quadra
Pela madrugada
Um senhor partideiro
Sambar na Avenida de azul e branco
É o nosso papel
Mostrando pro povo
Que o berço do samba é em Vila Isabel”
(Renascer das Cinzas. De: Martinho da Vila)
No recanto da Princesa, no campo de futebol do América surge o renascer das cinzas de Martinho da Vila, logo após o desfile de 1974. Pressões para a de mudança do enredo em 1974 e o corte da obra de Martinho por ser de caráter subversivo fizeram com que a Unidos de Vila Isabel amargasse um último lugar por não poder ter desenvolvido o seu pleno carnaval.
Assim como renasce das cinzas o samba de Martinho no alvorecer dos anos 80 também renasce o Brasil. Os tempos de bipolaridade são tempos passados. É na chamada “década perdida” que o Brasil novamente ganha voz e tem novamente a Liberdade. Vozes no ABC paulista por meio de greves engrossam a massa de descontentes com o regime ditatorial do país. O processo lento e gradual de abertura do país é iniciado e logo ganha vozes de “Diretas já!” A anistia e o fim do exílio libertam Brasil que pode novamente sonhar livremente.
Enredo: O Povo Canta o Brasil que Resistiu - Os 21 Anos de um País Sem Lenço Nem Documento
João Pinho
Entre “Raízes” nossa Historia
Destino levado a essa nação
Traz a “promessa de vida”
Por “águas” de opressão
Lágrimas que escorrem pela liberdade
Levam a luta o filho teu
A persistir, cantar no tom da resistência
“Contra o vento caminhar”, a voz que me condiz
“A taça do mundo é nossa”
Não há quem possa ser mais feliz
Em cores fortes a utopia traz suas glórias
O “milagre brasileiro” ainda não me fez sorrir
Ouço um batuque faceiro
Liberdade ao pandeiro, me faz sonhar
No ABC um novo tempo, voz operária a ecoar
E sob a luz da vitória, dou voto a multidão
Com as “mãos unidas”, “diretamente” mostro minha expressão
O sol, eu sei, voltará a brilhar por este chão
Dourando calçadas na minha “Raiz”
Canto poesias no meu violão
Pois bravo é meu pavilhão
O azul e branco é fé
O samba é minha Raiz
Ver das cinzas renascer
Democracia em meu país